O universo da arte, assim como os mercados financeiros, tem sentido os reflexos das incertezas econômicas globais. Um recente levantamento do UBS, em parceria com a Art Basel, revelou um cenário de queda no volume negociado de obras de arte em 2024, atingindo o menor patamar desde o impacto inicial da pandemia em 2020. Apesar disso, o estudo aponta para um otimismo interessante, especialmente entre os negociantes brasileiros, e sinaliza uma possível renovação no perfil dos compradores.
Em 2024, o mercado de arte movimentou US$ 57,5 bilhões, representando uma retração de 12% em relação aos US$ 65,2 bilhões de 2023. Essa é a segunda queda anual consecutiva e a mais expressiva desde 2020. Curiosamente, o número de transações aumentou 3%, alcançando 40,5 milhões.
O que esses dados nos dizem? A diminuição no volume, acompanhada do aumento no número de vendas, sugere que os compradores estão mais cautelosos, buscando oportunidades e, possivelmente, adquirindo obras de menor valor. Além disso, o mercado parece estar atraindo novos entrantes, que geralmente iniciam suas coleções com investimentos mais modestos.
Uma das percepções mais positivas do relatório é a indicação de uma renovação do mercado. Em 2024, vendedores relataram que 44% dos seus compradores eram novos, sendo responsáveis por 38% das vendas. Para Valeria Milani, responsável comercial do Multi-Family Office UBS Consenso, esses dados são animadores, pois demonstram a chegada de um novo ciclo de colecionadores.
Essa renovação é especialmente notável entre as pequenas galerias, onde a proporção de novos compradores atingiu 50%. Isso reforça o papel crucial desses espaços na introdução de novos públicos ao mundo da arte.
Apesar do cenário global de retração no volume, os negociantes brasileiros se destacam pelo seu otimismo. Mais de 80% deles preveem um aumento no volume de vendas em 2025. Esse entusiasmo pode ser explicado pela crescente evidência da arte brasileira no cenário internacional. A curadoria da Bienal de Veneza por Adriano Pedrosa, o primeiro brasileiro e latino-americano a ocupar o cargo, e a vitória do Brasil no Leão de Ouro na Bienal de Arquitetura de Veneza em 2023, colocaram a arte nacional em foco, animando os colecionadores locais.
O interesse dos investidores brasileiros também é notável. Em 2024, indivíduos de alta renda no Brasil destinaram, em média, 15% do seu patrimônio total para investimentos em arte, um percentual que se iguala a países como Alemanha e Hong Kong.
Valeria Milani ressalta que os consumidores brasileiros são “ativos” e “muito bem informados”, acompanhando feiras nacionais e internacionais e desenvolvendo estratégias para suas coleções. Esse mercado pujante e não amador demonstra a força e o potencial do colecionismo no Brasil.
A pesquisa também explorou as motivações por trás do colecionismo. Em 2024, 40% dos colecionadores de alta renda citaram motivações pessoais como a principal razão para adquirir arte, enquanto 24% apontaram motivações financeiras. No entanto, a maioria (mais de 85%) considera a arte um investimento relativamente seguro e um bom instrumento de diversificação de portfólio.
Apesar dessa percepção, o UBS esclarece que não oferece assessoria na aquisição de obras de arte com foco no retorno financeiro, concentrando-se em auxiliar os clientes na gestão de suas coleções, planejamento estratégico, impacto filantrópico e transição de legado.
Os Estados Unidos seguem como o maior mercado de arte do mundo, respondendo por 43% do volume global. O Reino Unido recuperou a segunda posição, com 18% de participação, enquanto a China caiu para o terceiro lugar.
Apesar das quedas gerais, o mercado de arte parece estar passando por uma fase de reajuste e renovação. A chegada de novos colecionadores, impulsionada pelo interesse e otimismo de mercados como o brasileiro, pode sinalizar um futuro promissor para o setor.
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